26/09/2009

Nas próximas eleições

O eleitor terá na sua frente provas materiais contra seus candidatos. Serão filmes que as emissoras não terão apresentado, mas circulam na internet para quem quiser ver.
Serão documentos assinados pelos candidatos, com reconhecimento de firma, mas eles dirão que não foram os autores, que querem calar a voz do povo com calúnias, derramarão uma retórica vazia e cheia de erros de português, após o quê serão aclamados. Investigações mal-explicadamente arquivadas não serão lembradas, palavras que os próprios candidatos reiteraram várias vezes terão sido esquecidas em um passe de mágica, bastando eles aparecerem com suas famílias, então o "estupra, mas não mata" será página virada.
A extrema direita vai defender que o policial deve executar o suspeito em via pública, sem acusação formal, a extrema esquerda vai defender que o policial seja um mariquinha. Qualquer um que tenha um plano decente será rejeitado, pois não proporciona o espetáculo que o povo deseja.
Vão prometer que as escolas serão revitalizadas e que todos os alunos passarão de ano, mas ninguém vai garantir que eles aprenderão algo. Escolas em tempo integral são caras e não dão retorno em menos de dez anos. Bandas marciais são caras e não dão retorno antes das próximas eleições. Aulas de música e philosophia não são tão caras, mas dão resultados antes das próximas eleições que os candidatos tremem só de pensar.
Aparecerão palhaços apelando para o ridículo para conseguir votos, pseudocelebridades sem talento que tentarão garantir ao menos quatro anos de mamata, vítimas de crimes ou tragédias apelando para o bom coração do povo para ganhar votos. Os que realmente terão chances de ganhar apelarão para a barriga e para o instinto vingativo, mantendo o eleitor no estado medievalesco em que se encontra.
Os mesmos jornais que hoje denunciam o mau caratismo do congresso, abrirão suas páginas para qualquer um que pague pelo espaço, como se fosse um anúncio qualquer. O eleitor, privado da formação do senso crítico, não perceberá a manipulação nem sempre sutil das informações em prol desse ou daquele candidato. Não perceberá que um simples flagrante photográphico, que pode nada ter a ver com a realidade da figura, formará uma imagem distorcida em seu subconsciente, distorcida o bastante para fazê-lo titubear ao digitar os números na urna.
Todos farão parecer que está nos futuros eleitos a solução para as mazelas do país, e que o povo deve esperar sentado as ordens para agir como e quando for determinado. Assim que o dotô mandar, todo mundo vai ao mutirão que distrairá as atenções dos problemas que ele mesmo causou. Mas o povo gosta de circo, quando mais horrores, mais ele aplaude.
Ninguém notará que o Brasil é refém de três poderes que brigam entre si para ver quem pode (e ganha) mais, em vez de arcarem com os compromisso assumidos.
Ninguém notará que aquele machão que prega a pena de morte para qualquer crime de qualquer idade, é dono de empresas de segurança privada que faturam muito com a criminalidade. Colocar polícia e sociedade em conflito faz parte do jogo.
Ninguém notará que muitas idéias só não deram certo, porque nunca foram realmente postas em prática. Ninguém quer se inteirar de pormenores, até porque nem todos sabem o que significa "pormenores".
Poucos se importarão em saber quem terá financiado as campanhas, destes poucos, menos ainda se perguntarão o porquê de as terem financiado. O povo não tem discernimento para pensar de quem é o dinheiro que pagará a conta. É tudo do governo, assim como os sinais de trânsito e as repartições públicas, que podem ser depredados pois o povo nada tem a ver com eles. Ninguém pegou uma nota do bolso e entregou para a construção do posto de saúde, então o dinheiro usado foi do governo, não do povo.
Passagens das vidas pessoais dos candidatos com chances de vitória serão usados contra eles, ainda que não tenham peso algum na competência, ou que sejam cousas já enterradas. Mas é espetáculo, eles sabem que um circo de aberrações pode influenciar os resultados das urnas.
Por fim, o povo sairá do pleito exactamente o mesmo. E eu com a convicção cada vez maior do que é opinião: Opinião é a distorção da percepção da realidade subjugada pela conveniência.

19/09/2009

Aos marxistas de boutique

Eu sou a favor de uma reforma agrária, mas sob hipótese alguma compactuo com a desordem e com a venda de terras compradas com o dinheiro que eu entreguei, sob a forma de impostos onerosos.
Eu sou contrário ao hedonismo capitalista, mas qualquer inteligência mediana que se ponha a pensar perceberá que quebrando a empresa, os funcionários ficam desempregados; vide a Gurgel.
Eu sou a favor de um sistema público de assistência, educação e saúde. Mas sob hipótese alguma aceito que pessoas fisicamente hígias ganhem tudo de mãos beijadas, sem dar uma hora diária que seja em favor da coletividade; como acontece muito em Goiás, onde beneficiários fogem da qualificação profissional para não perderem a mamata.
Vocês pensam que em países comunistas é assim? Acham mesmo que lá se pode fazer baderna quando uma decisão do governo não agrada? Quem lhes disse que o cerceamento da iniciativa e da opinião levou prosperidade a alguma civilização?
A grande maioria de vocês ainda esperava na fila para reencarnar, e os que já estavam aqui ainda cheiravam a cocô e urina, por isso mesmo nunca viram reportagens e depoimentos de fugitivos de países comunistas. Se ditadura fosse algo bom, ninguém fugiria de uma. Eu que conheci os anos de chumbo posso dizer a vocês, que não abrem mão de suas mesadas e de seus MP4: Cresçam. Em vez de lerem só o que os partidários escreveram sobre Guevara, leiam também o que os opositores falaram dele. Busquem nos sites as matérias e os textos de época sobre os países da Cortina de Ferro.
O que estão fazendo com vocês, que aceitam placidamente essa lobotomia virtual, é doutrinação. Exactamente o mesmo que o Partido Nacional Socialista fazia na Alemanha entorpecida.
Eu sou socialista, mas não sou um idiota que cospe no prato em que come e anos mais tarde se corrompe, fazendo tudo o que condenada e dizendo "Esqueçam tudo o que eu escrevi". Tenho os pés no chão.
Querem mudar o mundo? De verdade? Muito bem, vamos lá...

  1. Antes de arrumar a sociedade, aprendam a arrumar seus próprios quartos. Suas mães não são suas empregadas;
  2. Antes de participarem de passeatas, que muitas vezes terminam em baderna, vejam o histórico dos participantes. Vocês podem estar exaltando e seguindo criminosos;
  3. Estão com pena dos pobres? Sair quebrando tudo nunca resolveu o problema da pobreza. Junte seu bando de amiguinhos, fiquem alguns dias sem comer porcarias plastificadas de lanchonetes multinacionais e dêem de comer aos famintos. Como eu faço, como qualquer um com os pés no chão faz. Quem tem fome precisa de comida e trabalho, não de discursos retóricos ululantes;
  4. Por falar em multinacionais, qual a marca de seus celulares? E de seus tênis? Camisetas? Vocês podem muito bem viver sem tudo isso;
  5. Se querem uma sociedade justa, sejam justos primeiro com suas famílias. Salvo raras exceções, a casa com computador e todo conforto de que vocês desfrutam hoje, foi conseguida com trabalho honesto. Seus pais não são bandidos, respeitem-nos;
  6. Se conseguem ver com tanta facilidade as mazelas de um lado, vejam também as do outro. Falar mal de Guantánamo e fechar os olhos para os fuzilamentos de inimigos de um partido único, é mais que hipocrisia, é falta de vergonha na cara;
  7. Não tentem impor sua ideologia, da mesma forma como vocês não gostam que imponham outras a vocês. Vocês não sabem nem o que é melhor para si mesmos, quanto mais para os outros. Vocês sequer conhecem os outros;
  8. Seus heróis são ou foram homens, não deuses, portanto podem sim ter falhado e com certeza falharam, como qualquer humano. Então baixem suas cristas que qualquer um com mais de quarenta anos conhece esse calcanhar de Aquiles;
  9. Ditaduras não respeitam o meio ambiente. Se vocês forem à China e esboçarem um protesto não autorizado contra a gigantesca usina hidreléctrica que estão construindo no Rio Amarelo, correm o risco de nunca mais voltarem;
  10. Gostam de protestar contra o governo democrático em que nasceram? Podem continuar protestando. Graças à luta e ao trabalho da minha geração, a sua pode se dar esse direito. Mas, por favor, depois de se divertirem nas ruas, vão estudar para aprender e não só para passar. Porque foi assim que transformamos o pouco que conseguimos transformar;
  11. Aliás, as pessoas contras as quais hoje vocês protestam fizeram exactamente o mesmo que vocês fazem hoje, a diferença é que na época havia uma ditadura. Pois é, todos os envolvidos em escândalos na última década eram exactamente iguais a vocês, sem tirar nem pôr. Como eles, vocês também podem ser corrompidos, então tenham humildade;
  12. Por falar nisso, já que leram Guevara e Marx, leiam também e com a mesma voracidade, a vida de Henry Ford. Vão perceber que ele era muito mais libertário e socialmente avançado que qualquer um deles. Ele empregava negros e mulheres em uma época em que isto era perigoso para a imagem de uma empresa;
  13. Recapitulando: Mudem a si mesmos, seus maus hábitos e a indolência crônica e aguda que tomou conta de sua geração. Depois poderemos falar de mudar o mundo, o que não se dará pixando, depredando e cabulando aulas.
De seu amigo Nanael Soubaim.

12/09/2009

Prefiro o alfaiate

 
  Eu iria tratar de um tema denso, penoso e periclitante, mas estou com uma ligeira depressão, muito cansado e a cabeça em frangalhos, então falarei de algo mais ameno até me recompor.

  Há um ou dois meses doei minhas camisas pólo. As últimas pret-a-porter que eu tinha. Mais precisamente, há anos que não compro roupa pronta, faz quase uma década que não visto jeans. Só uso roupas feitas (ou ajustadas) pelo meu alfaiate. Não custa mais que uma roupa de loja de boa qualidade, só não tem o apelo do status que uma etiqueta badalada oferece, mas isto é algo que não me interessa.

  Quando há algum problema de costura, vou falar directo com o dono da confecção, no caso, da alfaiataria. Quando alguém vê algum problema em uma roupa pronta, fatalmente terá que ouvir "Bem-vindo ao Serviço de Atendimento ao Consumidor, sua ligação é muito importante para nós, aguarde uns instantes enquanto te enfiamos nossa propaganda com uma musiquinha horrorosa, que em seguida alguém da empresa terceirizada vai atendê-lo". Lá vai a conta telephônica para a estratosphera até alguém te atender "Senhor, nós estaremos estando te passando um número de telephone, para que o senhor esteja estando ligando para o departamento de produção". Com o alfaiate eu resolvo o problema sem burocracia.

  Ganhei em maio uma camisa, que de cara ficou grande. Tenho ombros largos, mas sou baixo, acreditei que bastaria cortar os muitos centímetros excedentes. Pois quando ele cortou para um funcionário ajustar, me mostrou o quanto um lado era maior do que o outro. Fico espantado em saber que as pessoas se vestem muito mal, mesmo escolhendo um modelo correctamente. No manequim fica um luxo, quando sai á rua é um luto. As mais bem cortadas até que não são ruins no primeiro uso, mas assim que vai lavar, as pendengas aparecem. A maioria das confecções não molha o tecido, mas muitos tecidos encolhem após a primeira lavada, especialmente os com algodão. Não bastasse isto, a linha da costura geralmente é sintética. O tecido encolhe, a costura nem tanto, e a roupa que parecia ser de bom gosto se torna uma fantasia de circo; juntas enrugando, costura desfiando, botões entortando, tinta se soltando, o tecido ficando áspero, et cétera. Só então a pessoa lê a etiqueta e descobre que o que foi barato de comprar é caro de manter, pois exige condições específicas e difíceis de se obter para lavar. Pret-a-porter que valha a compra é cara, muito cara. Algumas são caras e não valem a linha de costura, mas roupa pronta boa raramente não é muito cara.

  Já viram lojas oferecendo ternos a preço de blusão vagabundo? Vou lhes contar o truque; eles são cortados às dezenas de uma só vez, com um só molde e costurados em velocidade super sônica. Já estou vendo o dia em que vão passar cola industrial em vez de linha, para acelerar a produção. Os problemas desses ternos: a parte inferior de trás é sempre fechada, não tem a fenda que te permite se sentar, se movimentar e subir uma escada sem ficar parecido com o Robocop; O forro, quando o tem, mais parece retalho de pano-de-prato, alguns usam descaradamente o não-tecido, que gela no inverno e assa no verão; Por ser molde único para milhares de peças, ele não vai te servir, se ficar bom no ombro vai parecer um vestido, se ficar bem no comprimento não vai entrar sem rasgar; Em poucos dias de uso os problemas vão aparecer, como botões caindo, costura se desfazendo, bolinhas se proliferando e o tecido ficando lustroso como se tivesse sido encerado e polido, entre outros. Fora a assimetria que a maioria apresenta, um horror. Sai mais barato fazer um traje de gala do que mandar consertar, é sério.

  Ternos e afins são tão complicados, que quem os faz é chamado de "oficial", quase sempre alguém de idade madura e com muita experiência. Com seiscentos reais se faz um terno para receber a rainha da Inglaterra; com mil reais para consertar, o terno de R$199,99 não fica tão bom. É um baratinho que sai custando os olhos da cara, pois precisa ser substituído com grande freqüência.

  O Zé, assim que separa um tecido com fibras naturais para cortar, leva para casa e deixa de molho, para encolher antes de começar o trabalho. Só que isto leva algum tempo, artigo muito caro para as indústrias. Mas para ele é só um cuidado, principalmente para clientes como eu. Sou assimétrico, meu lado direito é mais musculoso de nascença, sou largo e baixo. As medidas vendidas em lojas nem de longe servem em mim. Sempre fica a impressão de que o defunto era maior.

  Não me lembro mais como é vestir um jeans, mas lembro do tecido batendo nos calcanhares a cada passo que eu dava. A modelagem mais justa das roupas femininas atenua muito esse incômodo, mas não sou mulher e não tenho saudades daquela peça armada feito um sino de algodão, badalando enquanto eu andava. Quando passei a usar somente calças sociais, senti a diferença dramática. Elas não batem no corpo, tremulam. Posso usar o corte confortável que me agrada sem medo de aparentar flacidez. Quando passei a usar somente calças feitas sob medida, não quis mais voltar. Mesmo as mais simples são peças que posso usar em qualquer ocasião, pois foram feitas para mim, para minhas formas completamente fora de molde.
Minhas roupas têm tecido suficiente para o caso de eu engordar, embora nunca tenha precisado desse artifício. Roupas prontas, para aproveitar ao máximo a matéria-prima, são moldadas por computador, ocupando cada centímetro da fazenda e barateando os custos, mas também eliminando a possibilidade de uma gestante continuar usando suas roupas por algum tempo, assim que a barriga despontar será um novo guarda-roupas. Cresceu? Engordou? Engravidou? Sem chances, é roupa nova.

  No caso das crianças, a roupa pode ter sobre tecido bastante para permitir ajustes por uns bons anos, um alívio no orçamento da família. Além de atenuar os efeitos da cultura do descartável, tão nefasta para o ambiente e para a mente da criança.

  O acto de ir encomendar uma camisa tem mais benefícios do que o econômico. Vendo de onde, como, quando e por quanto vai sair a roupa, cria-se um vínculo e se dá mais valor ao bem adiquirido. Não é como uma camiseta que um cara que nunca vi colocou no cabide da loja, sem que eu tenha visto. Eu fui à alfaiataria, conversei com o alfaiate, escolhi o tecido, defini o que gostaria ou não, tirei as medidas e combinei o preço. Quando pronta a camisa, lá voltei, experimentei, vi se não precisava de algum retoque e, aprovada, paguei e levei comigo.
Parece trabalhoso, talvez seja um pouco trabalhoso, mas é um trabalho que compensa. Vale à pena ter um vínculo por algo mais do que "é legal" ou "tá na moda".

  Algumas das minhas peças têm muitos anos de uso diário, pesado. Estão inteiras. algumas com sinais do tempo e das circunstâncias, mas em perfeitas condições de uso. Não tenho roupas de festa, tudo o que compro é para a labuta árdua de um trabalhador honesto, que acima de tudo é honesto consigo mesmo.

03/09/2009

Estive em São Paulo

Foi o primeiro vôo com circunflexo desta vida. Por conta da conexão em Brasília, na volta, foram três decolagens e aterrissagens. Também foi a primeira vez que esta criatura, até então encarcerada, deixou as fronteiras de Goiás.
De cara digo que São Paulo não me assustou. Primeiro porque os noticiários já o tinham feito, dando a impressão de que eu iria entrar em um mundo de biorrobôs. Segundo porque eu respeitei a cidade, não demonstrei medo e não cheguei me achando o maioral, simplesmente demonstrei respeito. Me dirigi aos cidadãos de modo cortês e recebi cortesias de volta. Foram solícitos em meu amparo, precisos nas instruções e compreensivos com minha crueza.

Trata-se de uma senhora com quase meio milênio de vida, já bem resolvida e ciente de seus direitos e deveres. Ela sabe que o país inteiro paga caro se cometer um erro. Já não se encanta com aventureiros, com cantadas de cinqüenta centavos, promessas já não acendem seus olhos e não se impressiona com demonstrações de qualquer tipo, a não ser as de respeito.

Pagando cinco centavos a mais para rodar distâncias maiores, com pontos de parada mais próximos, em ônibus melhores e sobre um asfalto mais bem conservado, fui ao metrô. Após problemas com a telephonia móvel, uma nativa em sua doçura e meiguice me orientou para novos procedimentos.

Este senhora bela e opulenta me ofereceu a mão carinhosa a guiar meus passos tímidos em caminho seguro. Não tenho o que reclamar dela, nem de seus filhos naturais ou adoptivos. À parte os problemas que a mídia escancara, como se só eles existissem, presenciei cousas que em Goiânia nem penso em ver. Mesmo os locais mais movimentados estavam satisfatoriamente limpos, as filas para o ônibus não eram burladas mesmo com passantes as atravessando de vez em quando, os ônibus ainda têm cobradores para auxiliar os passageiros, como este estreante na paulisséia.

Não me foi possível vê-la em todo o seu esplendor, com todo o encanto de mulher madura e ocupada em manter seus dependentes. Não se enganem, ela é sóbria, discreta e compenetrada. O escândalo que salta aos olhos se deve ao facto de ser extremamente bela e encantadora, qualidades ampliadas por sua estatura muito avantajada. É bem verdade que ela pode ferir, com um movimento súbito, mas para isto serve o respeito que lhe dispensei, mantendo a devida distância até que ela me chamasse para a curta conversa que tivemos.

Que mulher mais fascinante! Difícil compreender as atitudes de filhos ingratos que a maltratam, e de outros que a difamam para o mundo inteiro. Aquele repórter do New York Times, se tivesse ido para São Paulo em vez do Rio de Janeiro, com certeza teria tido uma posição bem mais respeitosa para conosco. Pois apesar de ágil e apressada, é serena e comedida, estuda bem quem se lhe apresenta e sabe impor suas regras.

Um conselho que dou para quem quer conhecer esta dama, é ter amizade com seus filhos. É pelo rebento que se conquista a mãe. Há anos trato alguns deles com o máximo de polidez e amizade que posso dedicar, pois fui recebido por abraços calorosos, inclusive por uma filha que só veio passar uma temporada e voltar para Rochester, Estado de Nova Iorque, mas foi dela que recebi um abraço que estava tão carregado de amor como poucas vezes experimentei, nunca de alguém que ainda não tinha colocado os olhos na minha cara de bolacha. Como a senhora que me aceitou carinhosamente, ela também é mãe e sabe receber. Sabe fazer um caipira tímido e recém-saído de uma vida de ostracismos se sentir vivo sem precisar dizer uma só palavra, como toda Audrey que preze o próprio nome.

Esta visita marcou uma guinada e activou genes que estavam adormecidos, alguns até atrofiados, como o da liberdade. Precisarei de muitos exercícios para que estejam prontos ao exercício pleno de suas funções, mas a dama secular em seu beijo rápido e maternal já fez sua parte.

Quando eu ainda não sei, mas voltarei a visitar a matriarca do país. Já sinto saudades de seus abraços, de sua beleza refinada, de seus filhos e de tudo o que ela oferece a quem se apresenta com intenções honestas. Da próxima vez irei com tempo, com recursos e certamente acompanhado. Não sou egoísta de usufruir sozinho do carinho e dos conselhos de quem me protegeu das sombras que ainda pairam na gigalopole.

Goiânia é uma criança que deveria se espelhar nas virtudes de quem é capaz de sustentar, sozinha, cultura e contracultura próprias. O que a torna uma cidade-estado

Posso dizer com toda a convicção do mundo, que a visita à Senhora São Paulo marcou minha morte, para permitir o meu renascimento. I love you, Sampa.