01/05/2013

Os Dragões de Titânia - A queda do César - Resenha


Renato Rodrigues é meu amigo pessoal, sujeito que prezo muito e a quem dou liberdade para certas brincadeiras, que ele faz se cerimônia... Inclusive com minha idade. Com tudo isso, eu me vejo no direito de fazer críticas constructivas, de apontar falhas e dizer que não gostei de algo. Bem, caríssimi, não é o caso. Novamente Don Renatonski acertou em cheio, mesmo nas partes em que eu gostaria de puxar sua orelha até virar cachecol. Por que ele fez aquilo com aquela menina???

Vamos ao livro e ao que vocês aprenderão com ele, se forem bons leitores. Mas antes, um aviso a muitos que parecem não ter compreendido a linguagem dele. Renato é nerd, casado com uma nerd e vive cercado de nerds, um nerdster por excelência. É fã de video game, RPG, quadrinhos, séries de televisão, cinéfilo, entre outras drogas pesadas do gênero. Quem não estiver familiarizado com a linguagem dessa cultura pop, realmente vai encontrar dificuldades em acompanhar sua narrativa. Ela é muito ágil e conta com a inteligência activa do leitor, quando pensas que a espada está voando, a cabeça já rolou e a turma já está amargando o luto, no dia seguinte.

O livro começa onde o anterior terminou, o que mostra que meu amigo não é essa bagunça que vocês pensam dele. Apesar disso, quem (EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ) não leu A batalha de Argos vai conseguir compreender a trama, se estiver com o raciocínio em dia. Entretanto, o aprendizado que o livro oferece, fica mais bem sucedido que o anterior já estiver devidamente digerido. Vejamos...

O anterior mostrou como nascem as conspirações, pois A Queda do César mostra sem disfarces como ela se desenrola. O leitor vai aprender que não deve ser surfista político, indo na onda de uma multidão que adora, teme ou adora e teme um figurão. O dito cujo, que está sob holofotes, é apenas uma marionete, que será descartada assim que não servir mais, ou que sua preservação for menos interessante do que sua ruína. Aliás, o autor mostra em detalhes, com a sutileza de um beija-flor e a frieza de um psicopata. Ele não te poupa da verdade, ainda que sob andrajos de uma ficção. É como se ele dissesse "Eddie, eu vou esquartejar esse cara legal aqui e já vou almoçar".

Às vezes ele dá a impressão de que seus livros são escritos a vários pares de mãos, às vezes me dá a certeza de que sim.

Acontece que as pessoas realmente sujas, são discretas. Elas se preservam da ira popular, porque sabem que é implacável. Quem viu o jogo de manipulações no livro anterior, ainda assim vai se impressionar com as dimensões que toma neste.

Aprenderá que a causa mais nobre e bem intencionada pode ser facilmente corrompida, se o grupo radicalizar sua posição. Por que? Porque os manipuladores estão atentos, prontos para suprir as necessidades imediatas em troca de submissão. As pessoas não precisam saber que estão sendo submissas, há muitas formas de o serem sem que percebam. e quando percebem, já é tarde, estão viciadas na vontade do manipulador. E serão descartada assim que não servirem mais, ou ele encontrar marionetes melhores.

Quando falo em descartar, não digo que vai deixar ir embora livremente, me refiro a assassinato cruél e exemplar. Isso acontece todos os dias e o amigo Renato esmiuça os requintes de crueldade, na ficção. Não pensem que quem elegemos é menos demoníaco do que o Castellian, só não tem as mesmas ferramentas.

Aprenderá ainda que as motivações de um evento gigantesco, podem muito bem ter origem em um facto cotidiano, uma frustração ou mesmo uma dor de cotovelo. Mesmo uma figura sagrada perde completamente seu valor, quando o ego está em jogo. Aliás, não é esta a causa primaria de todos os conflitos? Todas as guerras, no fundo, foram e são guerras de egos. A vida ensina de forma dura, mas o renato nos mostra isso no conforto de uma leitura, antes que a pancada nos atinja, por falta de prevenção.

Aprenderá que não existe danação eterna, simplesmente porque as pessoas não são infinitas, então não têm condições de fazer algo de tão ruim que jamais tenha conserto. O eterno e o infinito não pertencem às criaturas. Mas um manipulador de modo algum admite que se compreenda isso, porque lhe tira poderes. Ele fará de tudo para te convencer de que és impotente à sua presença, sem escrúpulos e sem medir conseqüências.

Esses que se vangloriam de terem se livrado dos manipuladores, mas continuam em sua senda de maldades,  se pegarão cedo ou tarde mais comprometidos com eles do que quando cooperavam. O mal é uma marca, ele te encontra onde que que estejas e sabe exactamente onde e como te fragilizar. Não hesitará em usar teu corpo como luva, que descartará sem puderes para não deixar pistas de sua ação.

Aprenderá também, se ler direito, que a convicção não deve ser confundida com certeza. Uma convicção arraigada, então, de modo algum deve ser vestida de certeza absoluta, pois esta só tem quem não erra, e quem não erra não aprende, quem não aprende não tem respostas e tampouco certezas. Se uma placa de trânsito avisa que há um barranco logo à frente, não significa que devas manter a direção e se estabacar lá em baixo.

Os próximos livros, A Dama da Montanha e Crônicas de Leemyar - O Necromante, este da Eddie, trarão surpresas adicionais e luzes novas, com mais do que os sete habituais matizes a que nossos olhos preguiçosos se habituaram... Só que trarão ainda mais perguntas do que respostas, então treinem a arte da paciência.

Aprenderá ainda, por fim, que não importa o quanto o seu grupo esteja ferrado, é muito melhor estar ferrado em grupo do que sozinho. O grupo te dá algo em que se apoiar ou, no mínimo, alguém em quem colocar a culpa.


Um comentário:

Renato Rodrigues disse...

Meu caro, grato pelas pelas palavras neste dia tão espcial dedicado aquilo que mais reclamamos e que deveríamos valorizar sempre que é o TRABALHO! Pricipalmente um trabalho bem recompensado com leitores tão perspicazes! E isso vale mais que qualquer salário que uma editora francesa possa pagar. Abraço!