23/06/2016

Economia, ciência humana



Foi assim que ela fez tudo o que fez


Foi interessante e até um pouco triste, diga-se de passagem, ter constactado que as páginas de economia costumam ser mais humanas do que as ditas “sociais”. A começar pelo foco. Essas páginas, apesar de lidarem com o calculismo e a frieza dos números, histórica e preconceituosamente tidos como inimigos da vida, se concentram em oferecer soluções práticas. Apesar de sim, haver interesses particulares em mover a economia, e falarei disso mais tarde, o modo como abordam é expor roteiros factíveis e alertas sérios.

Um dos métodos mais recorrentes é ajudar o leitor a se educar financeiramente. Pode parecer tedioso, mas é necessário e o brasileiro prova em reincidências que não sabe lidar com dinheiro, por isso o assunto é sempre pertinente. Sabem aquelas regrinhas de ver quanto se ganha e colocar no papel o que se pode comprar e pagar? Nós não sabemos. Não sabemos e a encrenca que foi a última farra de empréstimos é prova, caímos na mesma armadilha que vitimou os espanhóis e confiamos nas prestações a juros camaradas em parcelas a perder de vista. Só que não temos um bloco econômico e político como a União Européia para nos salvar. O Mercosul é uma piada com validade há muito expirada.

Juros compostos passaram longe! Aliás, o aprendizado de matemática básica passou muito longe! Também o de história recente, de geografia, enfim, tudo! Só que não adianta procurar culpados e apontar dedos, como as páginas de “cunho social” fazem. Não sem investigações individualizadas e muito menos sem antes consertar o que se puder do estrago. Há quanto tempo elas fazem isso? Só conseguiram lançar candidatos a cargos eletivos que, empossados, fizeram as mesmas misérias de todos os anteriores, e ainda os culpam por seus erros, incitando à discórdia e ao rompimento de relações pessoais, para preservar sua base eleitoral.

As páginas de economia, por outro lado, puxam tua orelha sem dó, mas sem apontar um dedo sujo de esfíncter para teu nariz. Em vez de te tratarem como um número na multidão, tratam como indivíduo, compreendem que não existe uma solução econômica única para todas as pessoas do mundo. Por quê? Porque cada indivíduo tem seus próprios sonhos, e mesmo os sonhos partilhados têm motivações diferentes em cada um que os acalenta, É por isso que tratam o leitor como pessoa, não como massa. Um sonho SEMPRE deriva de uma necessidade, consciente ou não. Irônico isso vir de um ramo de negócios corporativos, não? Não, não é.

Acontece que o dinheiro que vai para cada um, serve para as necessidades de cada um. Quando digo “necessidades”, não me refiro só à subsistência de nível pré-histórico, que muita gente prega como modo ideal de vida. Prega e muitas vezes tenta impor ao resto do mundo. Pessoas criativas, inventivas, com sede de realização, precisam de mais recursos do que as que aspiram à rotina horizontal e plana. Se bem que estas só conseguem vislumbrar essa planície porque alguém quis fazer mais, o que forçosamente utiliza os serviços dos que almejam a mansidão perpétua, dando-lhe recursos para manter seu modo de vida.

Vocês estão lendo isto, gostando ou não, porque alguém sonhou mais alto. Sonhou e conseguiu mover uma roda gigantesca, que moveu toda uma engrenagem de altíssima precisão, que não perdoa erros. Esse alguém pensou um pouquinho fora da caixinha. Não precisa ser muito, só um pouco mesmo, para ver que não dá para aperfeiçoar muito a vela de parafina, a lâmpada precisou mesmo ser inventada e viabilizada para uso comercial. Sim, comercial, é assim que os recursos movidos são repostos e permitem outros avanços. Boa vontade indica o modo operacional e o fim de uma empreitada, mas não a materializa. Lembrem-se das broncas da mamãe; devemos viver para os sonhos, não de sonhos.

Aqui vale uma regra de economia que a maioria ignora, e muita gente quer manter na ignorância. O que torna uma coisa valiosa não é ela em si, é você. É o trabalho humano envolvido, a necessidade da aplicação e o desejo de ver o resultado, que faz algo valer o tempo dedicado, que é expresso em unidades de troca válidas em todos os territórios que a doptam. O nome genérico dessa unidade é dinheiro. Por isso uma economia dinâmica e equilibrada, com a plena confiança dos envolvidos, consegue transformar em fortunas o que até então era nada. Ou seja, bens e serviços podem ser valorizados, riqueza pode ser criada, mas isso depende da unidade e coesão dos executores econômicos, que somos nós.

Ao contrário da crença geral e banal, pessoas felizes são boas para a economia, e uma economia feliz é boa para as pessoas. Um é o agente e o outro a ação, ambos estão bem ou ambos estão ruins, não há aqui um meio termo. Mesmo uma economia com indicadores extraordinários, sem uma população feliz e próspera, é doente e cairá enferma a qualquer momento. Se as pessoas estão bem, elas fazem coisas boas, e fazer as coisas é o que move a economia, o dinheiro é apenas um combustível que, como já vimos, é renovável e reutilizável. E ao contrário da crença geral e banal, sem o avanço técnico e econômico, não teríamos consciência do valor de um recurso, e provavelmente já teríamos devastado todo o meio ambiente sem nos darmos conta. Faça as contas e veja TODOS os exemplos.

Não existe uma mão invisível, não existe uma entidade mítica, não existe uma sociedade secreta com motivações secretas sob identidades secretas, tudo isso é mito. Mas existem sim muitos picaretas que alimentam mitos para manter as pessoas alienadas, sabotar uma economia e forçar todo mundo a trabalhar selo seu sonhozinho egoísta. Entendam que manipular a economia é como manipular o livre arbítrio de uma pessoa. Um Estado que fiscaliza de perto a movimentação econômica e a acerta nos trilhos, tão somente quando necessário, tem um país próspero e promissor, mesmo que indicadores do momento digam o contrário. É como uma pessoa forte e saudável que cai, se fere e sente as dores por algum tempo.

Vamos deixar claro que o motivo que leva uma pessoa minimamente hígia em suas faculdades neurológicas e psicológicas a querer mais dinheiro, é realizar a parte material de suas necessidades e seus sonhos. E quando incluo a higidez nesse rolo, me refiro também ao caráter. Mau-caratismo pode ser considerado um trampolim para facínoras.

Mas de quanto dinheiro uma pessoa precisa para realizar um sonho? Aos que alardeiam que é nenhum, reitero que cada um tem seus próprios sonhos, que os teus com certeza não servem para mais ninguém. Uma rede pendurada na varanda de uma casinha longe da civilização é teu sonho? Vá atrás dele, mas não tente impô-lo aos outros. Há quem não goste de abrir a porta e ver mato, não é problema teu. Há quem goste de abrir a janela e ver vastos jardins organizados em calçadões bem ornados e cercados de prédios elegantes. Egoísmo? Quem mesmo quer viver sozinho e só para si? Respeite o sonho do outro, não há dinheiro que o pague, mas há dinheiro que o viabiliza. Se não puder ajudar, como as páginas de economia tentam fazer, não atrapalhe.

Digamos que meu sonho seja o controle acionário absoluto da General Motors Company... PUTZ, voei alto! Tá, mas não é mirando na horizontal que se acerta um alvo distante, mesmo que ele esteja no teu horizonte. É para cima e para frente, em ângulo de 45° que se tem o melhor disparo. Mas ser o rei de Detroit não seria meu objectivo final, seria a base sólida para uma miríade de realizações que esse posto me permitira. Não importa agora quais seriam elas, é do meu escopo, só asseguro que não disseminaria miséria e opressão estatal para conseguir isso.

Um dos mitos mais arraigados é o de que se precisa de muito dinheiro para se fazer muitas coisas. Na verdade é suficiente gerenciar a aplicação repetida e em tempo hábil de uma quantia bem mais modesta do que se imagina. É como transportar em uma Kombi a carga fracionada que caberia a um gigantesco Kenworth. Ela dá conta, desde que tu concordes em esperar mais pelo serviço e se empenhe em fazer dezenas de viagens. Compreenderam? É a necessidade do indivíduo, da pessoa, que move o mundo e produz uma inovação. Darei mais um exemplo, desta vez mais técnico.

Um motor produz trabalho, este é nominado por unidades de potência, sendo o cavalo-vapor uma das mais utilizadas. Como se produz potência? Aplicando força e movendo a máquina. Força parada produz zero resultado, portanto zero cavalo-vapor, ou 0cv. Não importa que se aplique uma tonelada, sem se mover, ela não beneficia ninguém e não serve para absolutamente nada. No caso do motor, a força trabalha girando as rodas, e força que gira é chamada de torque. Um pouco de torque girando muito rápido, pode produzir a mesma potência de muito torque girando devagar. É o que diferencia, basicamente, um motor de uso leve, como o de um carrinho esportivo, do de uso pesado, como o de um trator. Um precisa de velocidades mais altas, o outro pode mal sair do lugar. Já um motor de alto torque que alcança altas rotações, bem, isso é para poucos, mas é uma coisa linda de se ver! Tudo depende do teu objectivo de vida e do que estás disposto a fazer por ele. Aqui solidez ética é posta à prova. Dinheiro é poder, e o poder te obriga a tomar decisões no tempo certo, estejas pronto pra tanto ou não.

Agora, quanto aos interesses, já que toquei no assunto... Estamos lidando com gente, lembrem-se disso. A maioria dos que apontam o dedo dizendo “Eu condeno e jamais faria isso”, é a parte mais propensa a fazer o mesmo ou até pior, no teu lugar. Picaretas não deixam de existir por falta de liberdade econômica, pelo contrário, eles se valem do sigilo necessário a uma economia fechada e controlada. Aqui cabe diferenciar os interesses de gente infeliz dos de gente que quer ser feliz. Esta quer enriquecer a própria vida com a realização de seus sonhos, aquela quer apenas controlar e vampirizar a tua vida. Gente feliz, lembrem-se sempre, não enche o saco. No caso aqui, não trava a economia e não desvia os recursos que deveriam ir para as tuas mãos. Economia é uma das ciências mais humanizadas que existem, para o bem e para o mal, como é a própria humanidade. Quer higienizar o mundo? Corra atrás de teus sonhos, prepare-se para isso, permita que o máximo possível de gente possa se beneficiar dele, porque se tu não o fizeres, há um canalha prontinho para ocupar o teu lugar e concentrar tudo em um bunker, só para ele. Mas só valem os teus sonhos, não os que querem te impor ou vender. Só os teus.

Ler também “Um punk domou o sistema”.

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